Assim como no primeiro relatório, é difícil começar a escrever. São tantas coisas para serem contadas que acaba sendo complicado decidir por onde começar. Estou agora na reta final do intercâmbio, nem deixei o país ainda, mas já consigo perceber o quanto vou sentir falta desse lugar. Conhecer um país muito diferente do seu próprio e ainda assim se sentir em casa é um sentimento que realmente não se tem com muita freqüência.
Enfim, tudo anda bem diferente aqui em Merket. Caso eu não tenha mencionado antes, Merket é o nome do acampamento. E antes que alguém pergunte, Merket não significa nada, é somente um nome. Dois dos três estudantes da Dinamarca voltaram pra casa e agora duas novas estudantes estão aqui. Além disso, a intercambista da Rússia também foi embora. Eu mudei para a casa ao lado e agora moro com as duas estudantes da Dinamarca e a menina da Sérvia. Também não lembro se mencionei no relatório anterior e estou com preguiça de abrir o arquivo e conferir, mas os estudantes dinamarqueses que trabalham aqui são graduandos de Pedagogia. Eles fazem o estágio final aqui, o qual dura seis meses e no final devem escrever um projeto para assim se formarem. Além de tudo, são ótimas pessoas.
Os hóspedes agora são bem diferentes dos primeiros grupos. Tivemos dois grupos da Igreja que vieram aqui com cerca de 150 adolescentes. Esse evento é bastante popular e acontece todos os anos. Os jovens recebem a confirmação do batismo deles aqui, ao mesmo tempo participam de diversas atividades de recreação, jogos, atividades de interação e cooperação, além dos momentos de ensinamento da bíblia. Meu trabalho, praticamente, é garantir a segurança deles durante as atividades. Entretanto, é muito divertido, pois eles são bastante ativos e animados e a grande maioria fala inglês. Também tivemos um grupo de crianças pequenas peruanas que foram adotadas por famílias norueguesas. Era realmente muito estranho ver as crianças peruanas falando norueguês e não espanhol. Mas também foi uma experiência muito boa, é incrível como é prazeroso trabalhar com crianças.

Confesso que de vez em quando é um pouco deprimente pensar em voltar pra Pelotas depois de sair daqui. Não que eu não goste da cidade onde moro, ou que pense que é inferior a outros lugares. Mas existem ainda tantas coisas que precisam melhorar em Pelotas e quando viajamos para outros lugares percebemos essas coisas de forma mais clara. Percebo também enquanto estou aqui o enorme potencial que Pelotas e todo o país possuem, mas que não estão sendo aproveitados ou estão demorando demais para serem desenvolvidos. Mas não se deve fugir dessa responsabilidade, esperar que a cidade se desenvolva não adianta nada. Também não podemos nos assustar achando que mudanças devem ser feitas somente através de grandes ações. Grandes mudanças podem ser geradas a partir de pequenas ações. Para que se tenha uma visualização mais clara dessa idéia, recomendo que assistam ao filme “Pay It Forward”.
Nos últimos dias tenho pensado bastante na minha presença aqui. Pensado não somente no meu intercâmbio, mas também em intercâmbios em geral. De fato, o que faz uma experiência em outro país ser realmente significante são as ações tomadas pelo intercambista durante sua permanência no exterior. Um ponto extremamente importante relativo a esse assunto é a questão da motivação da pessoa antes e durante a viagem. Com isso, se diferenciam bons e maus intercambistas, a partir do que eles estão buscando e por que. Portanto, tal reflexão torna-se bastante relevante quando se pensa em enviar e receber intercambistas, além de ir fazer intercâmbio por si mesmo. Claro que analisar sentimentos não é uma tarefa fácil e motivação é algo que pode mudar repentinamente. Mas muitas vezes é sim possível perceber se o indivíduo tem os requisitos necessários ou não para fazer de sua experiência algo positivo.
Essa semana tive meu primeiro contato com a AIESEC UiO (University of Oslo). Recebemos a visita da VP ICX daqui, a qual permaneceu por dois dias no acampamento. Ela queria saber como havia sido nossa experiência aqui, nossa avaliação geral do intercâmbio. Uma das principais razões era que essa era a primeira vez que esse intercâmbio era ofertado. Também nos reunimos com o gerente do acampamento para fazer uma avaliação completa e definir se essas vagas continuarão sendo ofertadas no futuro. Após uma boa conversa sobre tudo que havia acontecido aqui, o enorme número de coisas boas e minúsculo número de coisas ruins, foi concordado que é muito interessante para o acampamento receber estudantes da AIESEC novamente.
Durante a reunião, fiz apenas uma observação sobre algo que pode ser diferente para as próximas vezes. Algumas vezes, eu sentia que estava aqui apenas para auxiliar nas atividades, e me sentia com pouquíssima responsabilidade. Comentei inclusive um caso que aconteceu na semana anterior quando reparei que uma de nossas atividades não estava dando certo e então montei uma atividade completamente diferente. Tal atividade foi aprovada por todos, inclusive os hóspedes. Pode parecer simples, mas esse simples fato me fez sentir muito mais valorizado. E é disso que um intercâmbio trata, a troca de conhecimentos. Continuei enfatizando que como todos que trabalham aqui são noruegueses ou dinamarqueses, as atividades não variam tanto, já que ambos estão acostumados com esse local e com a cultura local. Mas quando alguém vem de fora, com outros tipos de jogos, atividades, brincadeiras e outros fatores em sua bagagem cultural, exste a possibilidade de enriquecer ainda mais esse lugar com novas dinâmicas.
Apesar de ter tido pouco contato com o comitê local, estou realmente impressionado com a capacidade e competência de seus membros. Ao conversar com Ida (VP ICX) perguntei muitas coisas sobre como funcionava a AIESEC aqui e o que mais me chamou a atenção foi que a @UiO é formada por, acreditem ou não, apenas 3 (três) membros. Eles receberam esse verão em torno de 140 intercambistas. Não lembro o número de envios, mas também é bem alto. Outra questão interessante é que como os países são bem próximos um do outro, não são grandes e viajar aqui é bem mais fácil que no Brasil, é fácil para eles fazerem conferências internacionais. Apenas uma semana atrás, a AIESEC de Oslo estava na Finlândia para um desses eventos. Com isso, me dei conta de uma questão também muito interessante. Nós que vivemos no Sul do Brasil, estamos muito perto de países como Uruguai e Argentina. Temos livre acesso a esses países, não é caro viajar para lá, temos facilidade em nos comunicar e todos possuímos comitês das AIESEC. Imagino quão fácil e enriquecedor seria uma conferência entre esses três países.
Por fim, sei que esse relatório foi um pouco mais teórico/reflexivo do que apenas informativo. E caso eu prolongue o texto ainda mais, tenho certeza que muita gente vai se cansar de ler, Portanto, gostaria apenas de encerrar dizendo que o que estou passando pode ser perfeitamente descrito pela tão famosa frase que toda hora ouvimos falar: “Life changing experience”.